sexta-feira, 9 de março de 2018

A Bigorna

A primeira coisa que notou de diferente foi que havia uma bigorna sobre uma mesa, posicionada em um canto, na sala de estar. Gostaria de saber o que seu pai malhava ali. Forjava facas? Ele adorava facas. Se fazia realmente isso, como esquentava os metais? No fogão ou no forno? De qualquer forma, o calor não seria suficiente. Qualquer ação que fosse feita naquela bigorna geraria um barulho insuportável aos vizinhos. Era improvável que fizesse algo. Ao mesmo tempo, não lhe parecia lógico e prático manter uma bigorna naquele ambiente. Poderia ser mais uma memorabilia. Quem sabe era de seu avô, que foi caminhoneiro? Caminhoneiros tem essa mania, de recolher tudo que encontram. Era uma hipótese, porque seu pai era muito apegado ao passado. Essa nostalgia resultava em longos silêncios de reflexão, assim como desencadeava constantes repetições de lembranças de atitudes heroicas e honrosas de sua infância e juventude. Entretanto, não era de se duvidar que o velho usasse a bigorna na sala. 

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