terça-feira, 18 de agosto de 2015

In a Sentimental Mood


Quando o atendente concluiu, dizendo que um técnico viria somente no outro dia, eu me conformei. Não sou do tipo que bate-boca com atendentes. Sem televisão, celular, internet. Era isso. Não teria notícias ou acesso ao que acontecia lá fora.

Nada mal. Então, coloquei aquele disco do Duke Ellington e Coltrane e terminei a pilha de louça. Limpei a caixa dos gatos. Varri os pelos deles, que voavam por todo o apartamento. Fiz a barba e me deitei no sofá.

A verdade é que eu não precisava de acesso a nada. O que eu necessitava era de momentos e algumas notas de sax para preencher o silêncio.

Passei os olhos num conto do Faraco. Eu já conhecia aquela história, como as demais, mas sempre tinha um detalhe, um novo jeito de olhar. A luminária estava repleta de moscas mortas, diminuindo a força da luz. O livro ficou de lado e só restou a música.

O sofá já tinha meu corpo desenhado. Os pensamentos iam se encaixando nas estantes da minha cabeça – essa semana seria uma boa visitar meus pais, pensei.

Como uma mulher sem passado, a noite se aconchegou ao meu lado. Se sonhei, não me lembro.


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