terça-feira, 30 de junho de 2015

O Último Suspiro do Futebol Arte Brasileiro


Eu vi o último suspiro do futebol arte brasileiro. Chamavam de "quadrado mágico". Tinha Kaká, R10, Robinho e Adriano. Às vezes, aparecia um já gordinho (e lesionado) Ronaldo Fenômeno no lugar de Robinho.

Os "entendidos" em futebol não compreendiam como era possível um time tão descompromissado taticamente (leia-se: faceiro) ganhar tantos jogos.

A resposta estava na qualidade, no dom daqueles moços. Mas pouco importam as respostas.

Atrás do quadrado, havia o cão de guarda Emerson e o lépido Zé Roberto (ninguém até hoje sabe qual era sua posição em campo, pois ele estava em todos os lugares). Para você ter uma ideia, Juninho Pernambucano era reserva, e também fazia de conta que era volante.

Também tinha Lúcio, o zagueiro mais veloz do mundo; Cicinho, o lateral que nunca marcou; Roberto Carlos, quase no fim, mas com a esquerda sempre calibrada; e o goleiro Dida, elástico, com seus 2,25 metros de altura.

Que time, meus amigos!

O resultado foi um "fracasso" na Copa de 2006. Perdermos por 1x0 para a França, de Zidane e Henry (um grande time), e não só fomos eliminados daquela copa, fomos eliminados para sempre. Na ocasião, o diagnóstico (de todos!) é que os jogadores faziam muita festa. Então, nosso futebol ficou sério (aqui é trabalho!), pois festa não combina com títulos.

Vencemos mais duas Copa das Confederações (2009 e 2013) e uma Copa América (2007). Comemoramos, afinal, ganhar é sempre bom. Entretanto, as vitórias foram opacas, paliativas. E o pior, que estava por vir, como uma lei de Murphy, veio.

Agora, depois de mais um revés (a eliminação para o Paraguai, pela segunda vez consecutiva na Copa América), o futuro de nosso futebol é nebuloso. A previsão é de tempo ruim. Muitos temem ficar fora, pela primeira vez, de uma Copa do Mundo. E o temor faz todo sentido.

Mas aqueles que viram aqueles mágicos (faz só 10 anos) não conseguem entender...


quinta-feira, 25 de junho de 2015

Entrevista de Emprego


- Qual seu principal defeito?
- A sinceridade.
- Tem outro?
- Perfeccionismo.
- Que animal você tem mais semelhança: coelho, bicho preguiça, cobra coral ou jacaré?
- Nenhum desses.
- Mas tem que escolher um.
- Jacaré.
- O que você vê nesse desenho?
- Sinceramente?
- Sim.
- Me parece um quadro do Romero Brito.
- Ok. Agora, vamos para a parte que a empresa precisa saber se você é de direita ou de esquerda.
- Só quero trabalhar, não vejo necessidade...
- Eu sou só um funcionário do RH. Posso seguir a entrevista?
- Desculpe. Pode, sim.
- Você curte os textos do Gregório Duvivier?
- Não curto.
- Você já comentou algum deles demostrando seu descontentamento, naquele espaço de comentário dos leitores?
- Sim, várias vezes.
- Então, você é de extrema direita.
- Sério?!
- Me desculpe, mas estamos procurando alguém de esquerda. Fica para uma próxima oportunidade.
- E o que eu faço agora?
- Sugiro que procure uma vaga na Gerdau, li em um site que todo mundo lá é de direita. Boa sorte!

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Verde-Oliva e Vermelho


Eles ficam nesse joguinho de gato e rato, fingindo que há uma ideologia de direita e esquerda, pois é conveniente ter um inimigo na trincheira, senão não há guerra, não é mesmo?

Daqui do front, nada mais me assusta. Só me impressiono com os tolos, soldados com .38 em punho, que realmente acreditam que vão sair vivos dessa. Eles disparam com gana, enquanto os generais, em seus Q.Gs, contentam-se em movimentar os pelotões. No fundo, eles têm com um certo pavor nos olhos. Aliás, pavor não é a palavra. A palavra é tesão.

Há uma bandeira hasteada. Ela deve ser mantida. Ela teve ser saqueada.

E eu? Bom, eu tenho duas pátrias, sei atirar e posso matar qualquer um. Quando a poeira baixar, eu deserto.

terça-feira, 23 de junho de 2015

Nem Com Uma Calculadora Científica


Todo mundo é arquiteto
Todo mundo é cineasta
Todo mundo é médico
Todo mundo é autodidata
Todo mundo é pedreiro
Todo mundo é jornalista o tempo inteiro
Todo mundo é brega a partir das 23h30
Todo mundo é fedorento se não passar perfume
Todo mundo é insatisfeito
Todo mundo é de Humanas
Todo mundo é humilde em frente às câmeras
Todo mundo é puta uma vez por semana
Todo mundo é parecido com quem a gente ama
Todo mundo é meio poeta, meio publicitário
Todo mundo é otário
Todo mundo é um assassino em potencial
Todo mundo é inventor, censor ou da Receita Federal
Todo mundo é bunda no Carnaval
Todo mundo é genial
Todo mundo é um número na Previdência Social
Todo mundo é seu próprio umbigo
Todo mundo é uma doce e suave ausência

Todo mundo é relativo
Todo mundo é muita gente
E não há jeito de contar

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Eles Tinham Mais O Que Fazer


Acamado, o escritor independente está à beira da morte. Ao seu lado, seu único amigo e confidente.

- Quero que você cuide de minha obra - diz o autor.
- Pode deixar.
- Doe os livros que escrevi a bibliotecas. Alerte a imprensa e leitores sobre minha situação. Diga que estou morrendo.
- Ah, sim. Imaginei que você ia pedir isso. Já contatei todos.
- E aí, o que eles disseram?
- Ninguém deu a mínima.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Kafka, Kafka, Kafka!


“Essa pequena mulher está muito insatisfeita comigo, tem sempre algo a criticar em mim, sempre uma injustiça a me imputar, irrito-a por tudo e por nada; se alguém pudesse separar a vida em suas menores partes e analisar cada uma das partezinhas isoladas, sem dúvida cada partezinha da minha vida seria motivo de irritação para ela. Muitas vezes perguntei-me por que a irrito tanto; pode ser que tudo em mim contrarie seu senso estético, seu sentimento de justiça, seus hábitos, suas tradições, suas esperanças, existem naturezas assim, contrárias, mas por que ela sofre tanto com isso?”. 

Trecho extraído do conto Uma Mulher Pequena, de Franz Kafka.