domingo, 28 de dezembro de 2014

Lição de Catequese - Poema

Enquanto o livro de poesias não sai, um poema novo.

Lição de Catequese

Lucas Barroso

Eu bato no despertador e logo penso na Literatura
Banho-me
Seco minhas partes
Preparo o café preto
Engraxo os sapatos
Visto-me
E me perfumo para a Literatura
Tomo a condução
Sem lugar para sentar
Escoro-me no peito vazio de outras Literaturas cansadas
No trabalho
Atendo as primeiras ligações
Redijo os primeiros memorandos
Como quem faz Literatura
Dia desses
A caminho de casa
A Literatura me assaltou
Levou meus documentos e uns trocados
Os guardas
Com seus fardões
Ouviram-me
Descreveram meu relato triste
Como se fosse uma Literatura barata
Ficaram de me retornar
Caso soubessem de algo
Caso tivessem alguma notícia boa
A vida não tem sido fácil
Às vezes
Falta Literatura na dispensa
Mas não há o que fazer
Bebo um pouco
Vou à janela
Não sei que Lua é aquela

É impressionante
O gosto da Literatura fica muito mais tempo na boca

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Nos Blogues da Vida

Alguns textos que li nos blogues da vida. Acho que vale a pena perder um tempinho com eles...


Diga a morte que estou escrevendo 
http://blogues.publico.pt/atlantico-sul/2014/12/21/diga-a-morte-que-estou-escrevendo/

Eu, você, nós dois 

Perguntas ao escritor 

Militância 

Petrobras, BB e Caixa lideram gastos de publicidade para mídia alternativa 

Livro: O Cão Que Guarda As Estrelas 

Joni Mitchell, Neil Young, Nico, David Crosby: discos clássicos do pop angustiado 

A BALADA DE ADAM HENRY: Ian McEwan, a dimensão do irreparável e a fachada cinzenta 

O clube dos escritores que não aceitam críticas 

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Você acreditou em 2014?

Fiz um resumo descontraído desse 2014 para o site Mínimo Múltiplo. Ano agitado, com eleições, Copa do Mundo, Petrobrás, avião que sumiu do mapa, novas e velhas guerras mundo afora, a volta do Ebola, a conciliação EUA e Cuba, bobagens na internet, mortos de renome...


Alguns trechos:

"Entretanto, tudo que a Copa do Mundo traria consigo, o tal “legado”, ainda não aconteceu. Continuamos tropeçando e desviando dos canteiros de obras inacabadas (não esqueçamos o viaduto que desabou em Belo Horizonte, matando duas pessoas e ferindo dezenas, em julho), que estão no meio do caminho e seguirão para além desse fatídico ano. Talvez sejam concluídas em 2015, mas não criemos mais expectativas. As eleições foram bem claras nesse sentido. A presidencial, mais acirrada desde 1989, inclusive, acabou com muitas amizades nas terras sem lei do Facebook e Twitter. Mas nada mudou. Dilma Rousseff manteve-se onde está. O PMDB continua com a maior representatividade na Câmara. E o termo “governabilidade” ainda será muito ouvido por aí". 

"E, veja só, Cuba e os Estados Unidos se reconciliaram. Obama anunciou, e Raul Castro confirmou, o restabelecimento das relações diplomáticas, cortadas em janeiro de 1961. Agora, só falta saber quem perdeu (ou ganhou, depende do ponto de vista): o “imperialismo” ou o “comunismo”?"

O texto completo: http://minimomultiplo.com/index.php?page=252

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Nós Não Podemos Dizer Que Nunca Tentamos



Já se foram mais de dois mil anos e a ciência não conseguiu medir o tamanho da dor, nem o diâmetro dos buracos que faz na alma. Mas ela, que não sabe sequer amar um homem direito – que nunca soube, aliás – jura que consegue. Insiste em dizer que sofreu mais. E que, até hoje, quando escuta Angie sente a garganta fechar – como se fosse uma alergia, como se sofresse um pequeno choque anafilático, somado a uma abrupta falta de ar. Tanto é que precisa ir à janela ou a um ambiente aberto. Mas não tão longe que não possa seguir ouvindo a música até o fim.

Dia desses, a dor retornou. O rádio estava ligado na sala. Aumentou o volume e correu para a área de serviço. Desviou das tolhas e das peças de roupas penduradas no varal, que, como ela, lutavam por um talho de Sol. Botou a cara para fora, não havia nada que não tivesse visto antes. Já eram seis horas, há tempo, e sua filha, Clarice – nome que ele colocaria se fosse o pai –, e seu cachorro da raça – aqueles tipos esquisitos da última moda, que podem ser comprados em seis vezes no cartão de crédito – estavam aos gritos, solicitando a presença do pai, que já devia estar em casa para brincar com a dupla. O homem, um sujeito simples, com estabilidade financeira e emocional, avisou sobre um protesto que havia fechado várias ruas da cidade. Estava preso no trânsito e se atrasaria.

Ela lembrou disso. Então, os dois se acalmaram com a informação, retornaram aos seus brinquedos, e o música voltou a tomar conta do apartamento. Entretanto, só foi possível ouvir os últimos suspiros de Jagger, com a voz um pouco cansada, perguntando: “quando todas aquelas nuvens desaparecerão?”. E a música logo se acabou.

Era bom estar viva. Mas ela não tinha respostas.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Os Chatos Típicos e Um Que Não Entende Nada de Mulher


Cerveja de litro gelada a 8 reais. É o resumo do que é a espelunca. Mas passa jogo do Inter e tem mesa de snooker de fichinha. Então, eu o Pedro volta e meia acabamos lá.

Não recordo todos os detalhes. Sei que o Inter ia mal. Perdia por 1x0. E quando o Inter vai mal, ficamos um pouco chateados. Mesmo tendo vivido a década de 90, é triste assistir o Inter perder. Geralmente, trocam passes sem sal, de um lado para outro. É angustiante.

Mas tinham outros problemas naquela tarde, naquele bar. Um sujeito não parava de pedir goles ou um copo da nossa cerveja. Ok, era um chato conhecido. Podia beber um pouco. Também tinha um gremista, sorrindo de forma comedida a cada erro colorado. Secando, metendo olho gordo a cada tabela, a cada chute. E o cara do rádio. Meu Deus, sempre tem o cara do radinho colado no ouvido ou com fone...

Assistir na TV com alguém ouvindo, ao mesmo tempo, no rádio é de lascar. Em razão da velocidade da transmissão, o desgraçado do radinho sempre antecipa o que esta por acontecer, desviando o foco da televisão. É inevitável, você fica de olho. Daí, ele faz uma carranca. Pronto. Alguns segundos depois a imagem da TV comprova a falha no ataque colorado. Desgraçado!

Pedro, com seu 1.68 de altura ("tamanho do Romário"), não se conteve.

- Tu não vai parar de ouvir esse radinho?
- Mas eu não tô fazendo nada...
- Não quero saber. Tu quer te incomodar?!

Ei, ei, ei! O pessoal do deixa disso apaziguou. Mas os chatos típicos seguiam. O pedinte, o gremista secador e o cidadão com o rádio. O ambiente estava insuportável. O Inter se arrastava lentamente para uma derrota, quando um desconhecido, em uma mesa distante, sabe lá por quê, inventou falar mal das gordinhas. Acho que contava piadas sobre elas.

Pedro se ergueu outra vez. Tentei segurá-lo, em vão.

- Que tu sabe de mulher, hein? Me diz, que tu sabe? Tu não sabe porra nenhuma de mulher...

Cheguei a tempo de soltá-lo do pescoço do outro. Acalmei a situação. Ponderei, era melhor ir embora. Pedro concordou. Antes de sair, o chato pedinte perguntou se não tomaríamos o resto da cerveja que ficou na garrafa. O do radinho, concentrado no jogo, abaixou a cabeça e quase se encolheu na cadeira, parecia padecer de algo abrupto. Em segundos, a TV confirmaria gol do adversário. 2x0. Na hora, o gremista pulou da cadeira de plástico, aquelas amarelas com propaganda da Skol, e berrou.

- Chupa, Pedro!!!!

Não tinha o que fazer. Que tarde de merda...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Pugilista


Socou as paredes com força. Ganchos, cruzados, diretos. Seus pés bailavam no quarto deserto. Com algum esforço, ouvia seu nome das arquibancadas. Era um sinal para seguir. O adversário estava em pé. Queixo duro. A guarda baixa. Não se manteria por muito tempo. Era o último assalto. Talvez, o penúltimo... Ganhar por pontos é para estrategistas. "Tenho que derrubá-lo", pensava. Seus dedos já estavam adormecidos e seu punho flácido. Mas seguiu. Apenas atirando as mãos contra o oponente. Até que foi nocauteado. Preferia assim. Prefiria morrer atirando, como aquele personagem no velho filme de faroeste. Acordou no hospital. As mãos engessadas. Três longos meses sem escrever. Três longos meses ouvindo vozes, versos, capítulos, urros, sonhos e delírios em sua mente. Não era possível segurar um lápis, tampouco bater as teclas. Seus dedos estavam mortos. Se ela não tivesse ido embora, teria alguém para quem soletrar. Alguém para ouvi-lo. A humanidade ganharia, certamente, um belo livro de poesia. Agora, no estado em que se encontrava, não passava de um pugilista inútil.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Caixa Econômica Federal Só Aceita Dinheiro Para Sanar Dívidas


A novidade é que a loteria literária, a corrida de cavalos das letras, está premiando os vencedores com curtidas no Facebook.

É bacana.

Faz um bem danado para o ego.

Entretanto, a Caixa Econômica Federal não está aceitando curtidas no Facebook para amortizar a hipoteca do Minha Casa Minha Vida...

Então, como é que faz?

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Alguns Outonos Depois


- Você vive sozinho?
- Sim.
- Desde quando?
- Desde sempre, quase trinta anos.
- E as mulheres, como faz?
- Geralmente, faço errado...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Flipobre - Evento Literário Vai Reunir 40 Autores de Todo o Brasil


Neste dia 7 de dezembro, domingo, acontecerá o primeiro festival literário na internet, o Flipobre. O evento terá transmissão ao vivo pelo You Tube e contará com 40 autores de todo o país. Os responsáveis pela criação da Flipobre são o escritores Diego Moraes (autor de A Solidão É Um Deus Bêbado Dando Ré Num Trator, editora Bartlebee) e Roberto Menezes (Palavras que devoram lágrimas ou a Felicidade Cangaceira, ed. Funesc).

São diversos temas e muitos autores interessantes. O escritor homenageado é Lima Barreto. Participarei da Mesa 3 - O Brasil tem muito escritor para pouco leitor?.

Promete!

A Flipobre já saiu na Folha e no O Globo:

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/raquelcozer/2014/11/1554844-resistencia-literaria.shtml

http://oglobo.globo.com/cultura/livros/flipobre-reunira-mais-de-40-autores-homenageara-lima-barreto-14703719