segunda-feira, 14 de julho de 2014

Um Encontro com o Dono da Verdade

Tive o desprazer de conhecer um formador de opinião. Estava numa esquina, sozinho. Como se fosse um cego vendendo bilhete de loteria. Ele sorria para as pessoas. Cumprimentava com um aceno ou só com a cabeça. Tinha pose, levava jeito para aquilo. Exalava erudição. Alguns, inclusive, cheiravam-no. Segundo o próprio, já tinha formado mais de 783.000 opiniões até o momento.  Tinha orgulho desse dado. Perguntei qual era a finalidade daquilo e onde ele queria chegar. Talvez quisesse competir com Jesus ou alguém do tipo. Não era para tanto, afirmou. Queria ficar só um pouco, um tempinho a mais que fosse, na cabeça ou no coração das pessoas. Já terá valido a pena, sentenciou. Não era possível. O bastardo era um romântico. Conseguia dormir à noite? Não, logicamente. Sua mente fervilhava. Mas teria muito tempo para descansar, profetizou.

Confesso que fiquei com inveja. Provavelmente, ele ficaria por mais uns tempos atazanando meus filhos e netos. Suas crônicas e artigos seriam catalogados e se tornariam leituras obrigatórias. Sua imagem ilustrando ideias e ideais viveria pra sempre, ou, pelo menos, até onde minha vista alcança. Sua cara de Buda e seu olhar sereno de pastor protestante preencheriam o imaginário. A verdade seria aquele rosto. A VER-DA-DE...

Pensei no meu filho, que nem existe, tendo de suportar aquilo. Ou, em um cenário mais tenebroso ainda, venerando aquilo. A VER-DA-DE. Meu filho tendo sua opinião formada pela VER-DA-DE daquele infeliz. Era demais. Apertei sua mão e desejei que ardesse no Inferno, que todas suas teses e teorias sumissem e ele fosse afundado por seu ego. Acrescentei, dizendo que o Capeta, só de sacanagem, deveria prender seu ego ao seu pé, para que ele arrastasse aquele pequeno mundinho durante toda sua estadia subterrânea. Filho da puta, você é um grande de um filho da puta, conclui bem baixinho e sereno próximo a sua cara, olhando eu seu olho de mestre. Só me acalmei quando ele me mandou a merda. Quem eu pensava que era, ele perguntava insistentemente. Dei as costas. Ele ficou vociferando sozinho. E eu subi aliviado no primeiro ônibus que apareceu.