domingo, 2 de março de 2014

Em Quem Não Acreditar

Você luta a vida inteira. Esbarra em gente de todo o tipo. Ultrapassa alguns obstáculos. Emperra em outros. Desiste. Corre atrás de sonhos. Inventa utopias. E, no fim, fica entrevado em uma cama de um hospital público lotado.

Com minha vó, por exemplo, foi assim. Uma mulher e tanto. Por que não lhe deram mais tempo? Por que lhe arrancaram para longe, assim de repente? Tinha carteira de motorista e de trabalho na década de 60. E ainda segurava a barra em casa. Tinha fibra, força, não levava desaforo. Era desquitada numa época ruim para ser desquitada. Que mulher! No seu final, merecia algo melhor.

E, por incrível que pareça, seu último desejo era apenas comer biscoitos de polvilho salgados. Não conseguia engolir nada. Não tinha força pra nada. E aqueles biscoitos imbecis lhe faziam um bem danado. Brilhava os olhinhos quando comia. Até hoje, isso me dói...

Então, ouço muita gente falar sobre o significado da vida. Eles podem julgar que sabem, fingir uma experiência no que dizem. Bom... eu simplesmente não acredito neles. Nunca vou acreditar.