sábado, 9 de novembro de 2013

Entrevista com Clarice

Clarice Lispector foi uma das escritoras que me formaram como leitor e, inevitavelmente, me inspiram. A densidade e a perplexidade diante das coisas mundanas, um olhar sempre novo e crítico, são as marcas que tenho dela em mim.

Fico sempre chateado com a banalização que existe atualmente em relação a sua obra. Clarice acabou se tornando uma espécie de frasista nas mídias sociais. Alguém que dá conselhos. Seus versos, em sua maioria, são tirados de um contexto e jogados como ensinamentos. E não era isso...

Quem a leu, de verdade, sabe que não era isso. Nunca foi. Mas as palavras tomam a liberdade, ganham o mundo e, simplesmente, assumem vida própria. E o autor acaba não sendo mais dono de nada que escreveu. Talvez seja uma explicação para esse fenômeno popular que a Clarice se tornou. Talvez...

Também é importante ressaltar que ela teve, sim, uma fase consultora sentimental, onde realmente fazia esse trabalho sujo. Clarice usava um pseudônimo, Helen Palmer, para assinar o Correio Feminino, em jornais como o Correio da Manhã, nas décadas de 50 e 60, com dicas para as mulheres.

Mas sua obra é bem maior que isso. E essa entrevista para o programa Panorama, da TV Cultura, a única para televisão, evidencia muita coisa. Em certa altura, ela resume, o que também acredito ser, a essência de quem escreve. “Eu não sou uma profissional, eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora”. Imperdível!