sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Solidões Programadas, Solidões Compartilhadas


A capa do meu livro diz muito sobre ele. Não sei o que levou o Ramiro Furquim, o fotógrafo, a clicar aquele instante. A imagem me bateu e resumiu o sentimento que tenho em relação a nosso tempo. São muitas salas sem ninguém. Um prédio vazio - o mais alto de Porto Alegre, depois fui descobrir. Os pertences estão lá. É quase possível sentir a vida. Entretanto, não há ninguém. É óbvio que ali, naqueles cubículos, existe vida. Mas onde ela está?

Estamos atentos, sempre ligados e em tempo real, mas onde, de fato, estamos? Nossas ações são virtuais. Namoramos pela rede. Compramos e vendemos - eu e meu livro somos um exemplo disso - sem uma relação física sequer. Basta apresentar números e transferir quantias invisíveis. Cada vez mais, interferimos e manipulamos menos o mundo real. Estamos sumindo, mesmo vivos. Como na capa de Virose: onde não há vida, só vestígio dela. Não vemos nossos amigos há meses, mas falamos com eles diariamente. Falamos não! Teclamos com eles. Trocamos palavras. Não sentimos seus cheiros, a aridez da pele, a intensidade da cor de seus olhos. Não medimos seus sorrisos, a força das vozes, tampouco suas dores.

Percebo que uma parte da sociedade, principalmente a que reside nos grandes centro urbanos, concentra-se em grandes solidões. Solidões programadas. Solidões compartilhadas. Mas, volta e meia, a Natureza das coisas se revolta e nos assusta. Como todo fenômeno, acordando-nos de um transe terrível. Daí, saímos às ruas e abraçamos o que existe. Lembramos que há algo lá fora, além de nós e nossa unidade. Há uma proximidade do corpo, do espaço, do tempo, que nos deveria ser natural.

E o mais assustador é que, após esse momento de encontro com a vida, geralmente, não resistimos a tentação - ao vício - e guardamos um frame desse momento para compartilhar. Como se tivessemos que lembrar aos outros que existe algo fora do virtual. Todos estão conectados - via redes, cabos, laços virtuais. E todos estão sós. Se você olhar no entorno, como olhei agora, verá apenas máquinas, equipamentos, mobília... Onde está a pulsação?

Há uma música no ar, mas não há um cantor, nem palco. Há uma cena acontecendo, mas os atores não estão no teatro e, sim, presos a uma tela. Há um poema de amor, mas não há uma folha rabiscada por uma caneta Bic. Não existe nada para se tocar. Nada para ser sentido. Nossas emoções estão presas em um mundo impossível. Um mundo onde nós não existimos.